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    Povos Indígenas do Alagoas - Minhas Impressões

    Povos Indígenas do Alagoas - Minhas Impressões

    A busca pelas questões indígenas foi sendo ressaltada no cerne da minha ancestralidade, não tenho como negar minhas raízes multifacetadas e multiculturais. Sustentar a ideia de reescrever a história dos povos originários do Brasil pela ótica do historiador me concebeu viajar quilômetros durante cinco anos, com a finalidade de coletar depoimentos orais que de alguma forma remontassem as etnias indígenas no século XXI. 

    Ao longo do caminho me ative a duas imagens contidas no olhar do outro, que, a priori, passaram a me incomodar, afinal, pensar no “índio” genérico, aquele que se reveste em sua mais profunda pureza em volta de suas pinturas corporais, seus maracás e tambores em rituais na fogueira, permitindo que o tempo da maloca se eternizasse na alma, fez com que petrificássemos os indígenas brasileiros a um índio estereotipado, “homenageado” no dia 19 de abril ou a um índio hostil, “aculturado”, alcoólatra, sossegado, pedinte, entrave para o progresso, gerando grande controvérsia. 

    Há, na verdade, uma grande dificuldade de aceitar o outro em sua esfera, porém a vivência com várias etnias indígenas, entre elas Kariri Xocó do Alagoas, me permitiu entrelaçar a história dos povos originários em tempos atuais, alinhavando as relações indígenas no século XXI. 

    É possivel tecer as tramas da sustentabilidade, fazendo com que nossos olhares se voltem para a mãe-terra e, por conta disso, temos pressa, porque realmente não sei, se o que vemos e temos hoje é uma materialização da destruição a que submetemos este planeta ao longo dos anos. Todas as culturas, todas as tradições contribuem para um certo modo de olhar, como bem disse Alfredo Bosi: “Nós tocamos o mundo na intensidade que o mundo nos toca”. 

    Busco na caminhada dividir impressões e saberes vivenciados junto aos povos Mura e Apurinã, do Amazonas, Guajajaras e Canelas, do Maranhão, Kariri-Xocó,do Alagoas que de certa forma, invadiram minha alma, sacudiram minha estrada e me ensinaram a amar cada vez mais a mãe-terra, respeitando o diferente, pois o problema do indígena é uma questão de todos nós, humanidade que mediante globalização, esquecemos de ver o outro em sua vez e voz, afinal, fazemos parte de uma teia, de um enorme caleidoscópio de relações humanas. 

    O maior desafio é traduzir os indígenas no século XXI como compreensão de um novo caminhar, na medida em que eles se misturam com a sociedade nacional. Não me preocupo em julgar o passado, pois somos figuras do nosso tempo, mas procuro relatar o que meus olhos e reflexão puderam descrever em palavras. 

     

    VALLE, Deborah Ribeiro do. MBAEKWARA: Os Indígenas do Século XXI. Campinas: Ed.  
    Incentivar, 2013.  

    Sobre a Autora 

    Graduada em Estudos Sociais com licenciatura plena em História, pós-graduada em História, Sociedade e Cultura pela PUC/SP, Gestão Educacional e Pessoas pela UNAR/SP, Neuropsicologia pela FMU e mestranda em Educação Internacional pela UDE/Uruguai. Autora dos livros: "Taboão da Serra: Memórias e Conquistas" e "MBAEKWARA: Os indígenas do século XXI". Esteve por 5 anos em pesquisa em Terras Indígenas (T.I) indígenas Mura, Apurinã, Guajajara, Canela, Kariri Xocó e Funiô. 


    Confira abaixo a entrevista realizada pela professora Deborah Ribeiro do Valle com o Cacique da Aldeia do Porto Real do Colégio, Paruanã Kariri Xocó, realizada em 11 de abril de 2022.
     

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