Em meio aos desafios da educação pública brasileira, uma iniciativa nascida em Taboão da Serra tem se destacado por uma proposta simples e ao mesmo tempo, revolucionária: escutar as crianças. O projeto DISCE-MINAR — uma junção simbólica entre “disseminar ideias” e “discernir caminhos” — surge como uma resposta concreta à necessidade de aproximar a escola da vida real de seus estudantes.

Voltado aos anos iniciais do Ensino Fundamental, o projeto parte da convicção de que as crianças têm muito a dizer — sobre o mundo, a escola, os problemas sociais, seus sonhos e seus medos. Invés de silenciar essas vozes, com atividades repetitivas ou avaliações padronizadas, o DISCE-MINAR aposta na potência da palavra escrita e falada como instrumento de cidadania. Cartas, bilhetes, rodas de conversa e exposições tornam-se o meio pelo qual os estudantes exercem sua autonomia, argumentam, imaginam e propõem soluções para os dilemas que os cercam.

A metodologia do projeto é construída de forma progressiva: desde os primeiros anos, os alunos escrevem bilhetes para seus familiares com a pergunta: “O que quero ser quando crescer?”, passando por mensagens a personagens favoritos, cartas à diretora, ao Secretário de Educação e até ao Presidente da República. Os temas evoluem conforme a maturidade das crianças, mas sempre com uma marca em comum: a escuta respeitosa de sua visão de mundo.

Inspirado nas ideias de Paulo Freire, o projeto entende a leitura de mundo como ponto de partida para a leitura da palavra. Com Delia Lerner, reforça a escrita como prática social e significativa. Matthew Lipman inspira as rodas de conversa, que funcionam como verdadeiras comunidades de investigação. Já Edgar Morin fundamenta a compreensão complexa e crítica das múltiplas realidades vividas pelos alunos

Mais do que uma sequência de atividades de linguagem, o DISCE-MINAR é uma filosofia pedagógica aplicada: ele rompe com a lógica do ensino tradicional que apenas transmite conteúdos e constrói uma prática que se importa em ouvir, dialogar e aprender com os sujeitos da escola — as crianças.