PUBLICAÇÕES EDUCACIONAIS

    Tendência no Tiktok: ‘trolar’ os filhos normaliza o abuso e pode gerar traumas

    Tendência no Tiktok: ‘trolar’ os filhos normaliza o abuso e pode gerar traumas

    Imagens de pais “trolando” seus filhos e as reações (normalmente de sofrimento e irritabilidade) das crianças a essas “brincadeiras” têm se tornado comum nas redes sociais. 

    Torta na cara, esconder brinquedos, fingir-se de morto e dar sustos intensos são algumas das agressões nem um pouco passivas disfarçadas de “trend” (tendência) que rapidamente viralizaram no TikTok. Vírus nefasto apelidado de “prank my baby”, algo como “pregando peça no meu bebê”.

    Trata-se de uma agressão por parte daqueles que deveriam ser os humanos cuidadores de referência.

    Os recentes estudos sobre o trauma são enfáticos: trauma não se define somente pelo evento em si, mas também pela capacidade individual de processamento e integração da experiência. Crianças pequenas são mais vulneráveis nesse sentido, pois ainda estão aprendendo a lidar com suas experiências, necessitando de cuidado e segurança para se desenvolverem. Isso é individual de acordo, inclusive, com uma perspectiva evolutiva.

    As memórias traumáticas são implícitas e elas são transportadas no corpo e no cérebro como uma colcha de retalhos de sensações, emoções e comportamentos, conforme afirma Peter A. Levine, autor de vários best-sellers sobre trauma.

    Portanto, crianças que vivenciam em seus corpos situações vexatórias como essas são capazes de “imprimir” uma marca traumática em seu repertório somático. Pode não ser só uma brincadeira para a criança, pode ser o início de um grande pesadelo instaurado e corporificado.

    Segundo a psicóloga Susan Linn, pesquisadora associada do Hospital da Criança de Boston, (Harvard), em entrevista ao jornal Washington Post, as crianças, sobretudo os bebês, estão aprendendo sobre realidade e fantasia, acreditando, dessa forma, no que veem, no que experienciam. 

    Uma “trolagem” pode ser considerada real, com efeitos fisiológicos correspondentes: o choro não vem sozinho, há mudanças no padrão de respiração, aumento do hormônio do estresse, o cortisol, sem falar nos efeitos psicológicos a partir da perda da confiança. Equivocadamente, os bebês não estão aprendendo sobre o humor, estão aprendendo a normalizar o abuso.

     
    Quem se responsabilizará pelos danos?

    De acordo com Susan Linn, as empresas que gerem as redes sociais deveriam ser responsabilizadas pelo compartilhamento deste (e de outros) conteúdos, por endossarem a prática de abuso.  Segundo ela, todos podemos, de alguma forma, em qualquer tempo, magoar os filhos, não de forma intencional. Estamos sujeitos às escorregadas relacionais. Mas permitir que crianças sofram desnecessariamente quando são magoadas propositalmente, e que as empresas que administram as redes sociais lucrem com vídeos de bebês e crianças pequenas em sofrimento é um absurdo diante do qual não podemos nos silenciar e normalizar.

    A exposição da infância nas redes é um tema polêmico, vasto, necessário e fonte de investigação de pesquisadores pelo mundo. Não magoem quem está chegando na vida agora. Uma cultura de paz começa com um olhar humano e amoroso, esse será o olhar com que observarão e cuidarão do mundo.

    Existe um compromisso ético com a infância e podemos estar colocando em risco uma geração de seres humanos corrompendo princípios relacionais. Será que vamos parar de nos assistirmos em nossas relações para nos vermos somente através do espelho narcísico das telas? Um dos princípios básicos das abordagens relacionais é que somos afetados e afetamos o outro. Para ter mais consciência desse processo, precisamos nos tornar agentes das nossas ações, responsáveis e auto-observáveis. Quem sou eu quando diante do outro? Como me posiciono diante do outro, interajo, escuto, interpreto, noto como o outro me afeta? O que estaríamos roubando da infância quando expomos uma criança que libera o seu sentir tão genuíno diante de uma agressão planejada pelo adulto que deveria cuidar dela?

    Deixemos as crianças em paz.

     

    Texto:Canguru News  
    Crédito de foto: Reprodução de vídeos do TikTok / Acervo Canguru News
     

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