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    Como ajudar a criança a superar uma tragédia

    Como ajudar a criança a superar uma tragédia

    O desastre provocado pelas chuvas no domingo de Carnaval (19), no litoral norte de São Paulo, afetou milhares de moradores e turistas que passavam o feriado nas praias da região. Mais de 40 pessoas morreram e há dezenas de desaparecidos devido às quedas de barreiras, inundações e destruição de casas. Se para um adulto é difícil lidar com o trauma de situações extremas como essa, para a criança, que ainda não tem maturidade para entender certas coisas, pode ser ainda pior.

    “As crianças dispõem de menos recursos para lidar com o sofrimento por conta da fase de desenvolvimento em que se encontram. Elas ainda estão amadurecendo a nível físico, cognitivo e psíquico, necessitando da segurança do adulto e do ambiente ao seu redor”, explica Ingryd Abrão, psicóloga clínica especialista em emergências e crises, e diretora operacional da ONG Núcleo Espiral, que atua na prevenção da violência infantil.

    Algumas crianças foram muito mais impactadas que outras, e o sofrimento varia de acordo com aspectos como a personalidade, a idade e situação de cada família. Mas tanto as atingidas pelo temporal, quanto as que estavam na praia a passeio, e viram o desastre de perto, precisam de atenção e apoio agora para evitar que desenvolvam transtornos como os de ansiedade ou estresse pós-traumático, por exemplo.

    Ingryd relata que o trauma ocorre quando a criança passa por qualquer experiência que seja sentida como risco concreto ou ameaça à sua sobrevivência (física ou emocional) ou à de outros. “É uma experiência avassaladora, que provoca alterações emocionais e físicas”, diz.

     
    Conversas, acolhimento e brincadeiras

    Falar sobre o ocorrido é uma das maneiras de ajudar os pequenos a entender o que de fato aconteceu. “É preciso conversar com a criança, tomando cuidado com o nível de desenvolvimento dela. Quando não se conversa, não sabemos o que ela está pensando sobre a situação e às vezes ela pode pensar em algo muito mais ameaçador do que de fato foi”, comenta a psicóloga infantil Márcia Bignotto, professora no Instituto de Psicologia e Controle do Estresse, em Campinas (SP).

    Incentivar as crianças a dizerem o que sentem, por meio da fala, desenhos ou brincadeiras, também é essencial para que compreendam e assimilem os sentimentos e as emoções. “Perdas geralmente são acompanhadas por sentimentos de tristeza e raiva e é indicado que a criança fale sobre isso”, relata Márcia. Irritação, medo, dor, vergonha, retraimento e choro também podem surgir e é importante oferecer um espaço seguro para o filho nesse momento.

    Além do diálogo, os pais podem acolher a criança se fazendo presente, brincando, dando atenção de qualidade e fornecendo o cuidado necessário. “A criança se recupera quando amparada de forma adequada. Um simples abraço, assim como a prática de exercícios de respiração também podem tranquilizar, exemplifica Ingryd.

     

    Impacto do trauma na criança

    A idade e a capacidade de compreensão dos pequenos influenciam em como eles vão reagir à tragédia e o quanto entendem a situação como perigosa. “No caso do desastre no litoral, crianças maiores entendem melhor o que aconteceu e têm mais noção do risco. Já a criança menor também é afetada, mas de maneira diferente”, aponta Márcia.

    Se a criança é pequena e/ou não possui vocabulário suficiente para se expressar em palavras, o lúdico, as historinhas e filmes contribuem para o acesso ao mundo interno dela. “Quando ainda são pequenas, misturam a realidade com fantasia, então é interessante acolher com paciência os medos que surgem. Para o adulto, muitas vezes pode não fazer sentido ou parecer ‘frescura’, mas para a criança, aquilo que está enfrentando em seu imaginário pode ser terrível e amedrontador”, ressalta a especialista em emergências e crises.

     
    Sinais que exigem atenção dos pais

    Muitas vezes, ao passar por uma circunstância difícil, a criança não demonstra que está mal e é necessário ficar atento aos sinais que podem surgir a partir do trauma. Entre os sintomas físicos, estão dor de barriga, dor de cabeça, tique nervoso, náuseas, hiperatividade, enurese noturna, gagueira, tensão muscular e ranger de dentes.

    Há também sintomas psicológicos como terror noturno, introversão súbita, medo excessivo, agressividade, impaciência, choro excessivo, pesadelos, ansiedade, dificuldades de relacionamento, desobediência inusitada, desânimo e hipersensibilidade.

    “Todos esses sintomas podem indicar um quadro de estresse infantil”, pontua a psicóloga de Campinas. Ela diz que esses sinais podem aparecer inclusive nas crianças que não vivem na região, mas presenciaram o deastre. “Mesmo sabendo que houve uma tragédia, que é uma situação de catástrofe, o que a criança precisa neste momento é de segurança, que ela tem pessoas ali que podem ajudá-la a se sentir segura”.

    E se os pais também estão impactados, é importante que possam conversar e expressar seus sentimentos. “Se preciso, devem até buscar ajuda de profissionais de saúde mental, preparados para lidar com momentos de catástrofes e que trabalham com o estresse pós-traumático e usam técnicas específicas que ajudam a passar por um momento assim. Às vezes, as prefeituras dos próprios locais onde ocorreram os eventos disponibilizam profissionais para esse fim”.

     

    Texto: Verônica Fraidenraich / Canguru News
    Crédito de foto: Acervo Canguru News
    https://cangurunews.com.br

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